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Brasil e Argentina adotam estratégia comum para não isolar Venezuela

Na semana passada, o Brasil parecia ter mudado o tom com a Venezuela. Uma nota do Itamaraty pedia ao governo venezuelano respeito à democracia e à vontade popular expressada nas urnas. A Argentina também emitia uma nota semelhante e acrescentava o respeito aos Direitos Humanos como condição para a Venezuela continuar a integrar o Mercosul. Mas uma semana depois, a estratégia mudou. Em visita à Argentina, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, combinou uma posição comum e mais amena com a chanceler argentina, Susana Malcorra, em relação à Venezuela.

A chanceler argentina Susana Malcorra com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira.
A chanceler argentina Susana Malcorra com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. Divulgação
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Márcio Resende, correspondente da RFI Brasil em Buenos Aires.

Apesar da nota na qual o governo brasileiro pedia ao presidente venezuelano, Nicolás Maduro, respeito à vontade popular, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, minimizou a dimensão da crise institucional na Venezuela. "Todos os países passam por momentos de crises políticas econômicas de diferentes naturezas. Os problemas são venezuelanos e estão sendo resolvidos pelos venezuelanos", minimiza Vieira. "A nota não era para impor ou para julgar. A nota dizia que é importante que haja respeito às urnas", explica.

As notas de Brasil e Argentina foram emitidas logo após a posse dos novos deputados na Assembleia Nacional e antes da decisão do Tribunal Supremo de Justiça, sob influência de Maduro, de anular a eleição de três legisladores que dão maioria absoluta à oposição. Outra tentativa de sabotagem do resultado eleitoral é a decisão de esvaziar os poderes da Assembleia.

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Marcio Resende, de Buenos Aires

"O Legislativo tomou posse. O Judiciário está examinando uma questão e vamos esperar o fim desse exame do Judiciário", pondera Vieira. A chanceler argentina, Susana Malcorra, usou o mesmo tom: "Há um processo interno na Venezuela que mostra a relação entre os poderes. Nós queremos nos assegurar que se respeitem todos os princípios da democracia, das liberdades e da separação de poderes”.

Não há impasse na Venezuela

Mauro Vieira comparou o caso ao do Paraguai, suspenso do Mercosul em 2012, depois de o então presidente Fernando Lugo ter sido destituído. Na época, os países do Mercosul entenderam que houve um "golpe institucional". "A diferença é que na Venezuela não chegamos a uma situação de impasse. O que está acontecendo na Venezuela está sendo resolvido de acordo com a Constituição, com um marco legal, e com as instituições em vigor", afirmou Vieira.

Mas agora, com a Venezuela, a estratégia do Brasil é diferente: em vez de isolar o regime de Maduro, o que poderia agravar a delicada situação, o Brasil quer trazer a Venezuela ainda mais para dentro do Mercosul. O ministro Mauro Vieira contou que o Mercosul trabalha para a Venezuela terminar o seu processo de adesão plena ao bloco.

"Falamos sobre o final do processo de adesão da Venezuela ao Mercosul que se encerra no início do segundo semestre. E falamos sobre as negociações que estão em curso nesse sentido. Estamos todos trabalhando muito e juntos com a Venezuela", revela.

A estratégia de fortalecer o vínculo é também uma forma de comprometer o governo do presidente Nicolás Maduro a respeitar as regras do bloco que exigem Democracia e compromisso com os Direitos Humanos. Mas, por outro lado, pesam os interesses comerciais. Suspender a Venezuela do Mercosul seria excluir um importante mercado para as exportações e para várias empresas brasileiras presentes no país, além de perder um dos maiores produtores de gás e petróleo.

"A Venezuela é um vizinho importante do Brasil e traz para o Mercosul uma dimensão geográfica muito mais ampla, do Caribe à Terra do Fogo. E inclui um componente importantíssimo: o energético. É um grande produtor e exportador", destacou Vieira.

Novo governo, novas relações

O ministro Mauro Vieira veio à Argentina para estabelecer os mecanismos que vão reger as relações bilaterais do Brasil com o novo governo argentino. Foi o primeiro ministro das Relações Exteriores a ser recebido oficialmente pelo governo há 35 dias no poder.

O ministro teve reuniões com a chanceler argentina, Susana Malcorra, com o ministro da Fazenda, Alfonso Prat-Gay, e como o próprio presidente Mauricio Macri, que recebeu um convite formal da presidente Dilma Rousseff para visitar o Brasil, provavelmente em março.

Nas próximas semanas, devem vir à Argentina os ministros brasileiros do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, da Ciência, Tecnologia e Inovação e, mais adiante, da Defesa. Os próprios chanceleres Vieira e Malcorra vão se reunir a cada dois meses, alternadamente no Brasil e na Argentina.

"Essas reuniões bilaterais devem produzir resultados concretos para que, quando Macri for ao Brasil, já tenha coisas concretas para anunciar", concluiu Mauro Vieira.

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