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Linha Direta

Com propostas polêmicas, Trump ganha batalha na mídia dos EUA

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O pré-candidato do partido republicano Donald Trump tem recebido mais espaço na mídia americana do que todos os outros candidatos republicanos e democratas combinados, sem dúvida por causa de seu comportamento pouco presidencial e propostas cada vez mais polêmicas. De acordo com o Tyndall Report, que acompanha o tempo dedicado a cada candidato nos principais programas dos canais NBC, CBS e ABC, Trump é o candidato com mais tempo no ar este ano até 30 novembro, com 234 minutos de cobertura. Todos os candidatos democratas combinados tiveram 226 minutos, sendo que metade desse tempo foi dedicado exclusivamente a Hillary Clinton.

O pré-candidato republicano Donald Trump em campanha em Spencer, no Iowa, no dia 5 de dezembro de 2015.
O pré-candidato republicano Donald Trump em campanha em Spencer, no Iowa, no dia 5 de dezembro de 2015. REUTERS/Mark Kauzlarich
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Ligia Hougland, correspondente da RFI em Washington

No começo da campanha, o magnata garantiu a presença de seu nome nas manchetes ao atacar imigrantes latinos, os apresentando como os grandes inimigos da economia e da segurança dos americanos. Com os recentes ataques terroristas em Paris e em São Bernardino, na Califórnia, Trump aproveitou para explorar o medo dos eleitores ao incitar o preconceito contra muçulmanos e propor um plano para banir por tempo indeterminado a entrada de todos os seguidores do Islã nos Estados Unidos, causando uma repercussão negativa internacional.

Mesmo assim, o milionário de topete laranja continua liderando as pesquisas junto aos eleitores conservadores. No entanto, a ideia de banir a entrada de pessoas no país com base na religião foi recebida com forte desaprovação entre os formadores de opinião e líderes políticos. Com essa proposta absurda, que vai contra os valores historicamente mais defendidos pela democracia americana, Trump conseguiu a façanha de unir democratas e republicanos.

Para Casa Branca, plano de Trump o desqualifica como candidato

Até mesmo o ex-vice-presidente Dick Cheney, que tem fama de ser um conservador implacável, foi aplaudido pelos liberais ao dizer que a proposta de Trump vai contra tudo que os Estados Unidos defendem, particularmente, o direito à liberdade religiosa. A Casa Branca disse que o plano do magnata o desqualifica como possível presidente.

Além disso, os analistas acreditam que as declarações incendiárias do pré-candidato republicano podem prejudicar parcerias estratégicas dos Estados Unidos e ameaçar a segurança de americanos, tanto não muçulmanos quanto muçulmanos. Mas alguns analistas dizem que, se Barack Obama, se manifestasse de forma mais direta e pró-ativa contra a ameaça do terrorismo islâmico e validasse as preocupações dos cidadãos com a possibilidade de terroristas entrarem no país infiltrados entre refugiados, não haveria espaço para o discurso de Trump.

Milionário popular, sem papas na língua

Mas é justamente o comportamento ridículo de Trump que garante, por enquanto, sua popularidade. Ele faz um papel que já pratica há décadas, agindo como uma caricatura de milionário sem papas na língua. Não é à toa que seu programa The Apprentice, que não passava de um culto ao magnata que lidava duramente com seus aprendizes, foi um dos maiores sucessos no gênero reality tv, chegando a atrair 28 milhões de telespectadores.

O eleitor que quer ver o milionário na Casa Branca é, na maioria, branco, de meia-idade e sem diploma universitário. Para esse grupo, a mentalidade saudosista que impulsiona a campanha de Trump, com o lema Make America Great Again, que promete fazer os Estados Unidos voltar a um passado utópico de glória, tem grande apelo, especialmente em uma economia voltada ao desenvolvimento de tecnologias cada vez mais avançadas e com foco na globalização.

Maioria dos eleitores americanos rejeita Trump

Mas esse é um eleitorado limitado em número. De acordo com uma pesquisa recente do USA Today em parceria com a Suffolk University, 60% dos eleitores americanos têm uma visão negativa de Trump. Com comportamento e ideias absurdas, como deportar 11 milhões de imigrantes latinos e construir um muro entre os Estados Unidos e o México, forçando o governo mexicano a pagar por isso, é difícil considerar o magnata como um candidato sério.

Maajid Nawaz, fundador da Quilliam, uma think tank que visa combater o extremismo islâmico, diz que Trump não é um candidato presidencial, ele é um “troll presidencial”. Já há alguns anos, o partido republicano está passando por uma crise de identidade e, sem uma reforma ampla que faça com que sua plataforma seja mais atraente para uma maior parte da população, incluindo jovens, imigrantes e minorias, o partido pode se tornar inviável.

Muitos analistas dizem que a liderança da sigla teme a possibilidade de ter de contar com Trump para enfrentar Hillary Clinton na eleição presidencial de 2016. Mas o partido democrata está desgastado e cerca de 54% dos eleitores veem a ex-secretária de Estado de modo desfavorável. Com um candidato sério, os republicanos teriam uma boa chance de voltar à Casa Branca, depois de oito anos de governo democrata comandado por Barack Obama.

O problema é conseguir convencer a base do partido a apostar em um político experiente, como o senador Marco Rubio ou o ex-governador da Flórida, Jeb Bush, quando seus eleitores sonham com os velhos tempos e com uma celebridade, como Ronald Reagan, ocupando a presidência dos Estados Unidos. Independentemente das pesquisas, a liderança da sigla pode, em tese, mudar as regras do jogo de modo a impedir a nomeação de Trump, mas o tiro pode sair pela culatra, se milionário decidir concorrer como candidato independente.

Pelo menos por enquanto, o partido republicano está refém do espetáculo de Donald Trump.

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