Vitória de ator no 1° turno na Guatemala mostra que eleitores não têm opção, dizem analistas
Segundo os primeiros resultados, o ator cômico e apresentador Jimmy Morales, candidato do partido conservador FCN-Nación à eleição presidencial na Guatemala, aparece com 25,8% das intenções de voto, com mais de 80% das urnas apuradas, e deve vencer o primeiro turno. Para analista político guatemalteco entrevistado pela RFI, "ninguém ousava acreditar" nessa possibilidade, o que causou "uma grande surpresa" no país.
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Jimmy Morales, de 46 anos, não tem experiência política. Ele é conhecido do público na Guatemala pelo personagem cômico de um cowboy que se torna presidente por acaso. Morales conquistou o eleitorado com o slogan "não corrompido e não ladrão" e é visto como uma alternativa aos políticos tradicionais.
O analista Luis Fernando Mack, da Faculdade de Ciências Sociais da Guatemala, explica o resultado que muitos consideraram surpreendente. "Apesar de institutos de pesquisas terem previsto, ninguém ousava acreditar. Ele era um ator, e por isso era mais conhecido. Apesar de dizerem que é um empresário bem sucedido, não era famoso antes da eleição", avalia.
Para Mack, a vitória do comediante no primeiro turno reflete a falta de candidatos na eleição. "Acho que as pessoas votaram nele pensando: não temos outra opção e seguindo um famoso ditado no país, votamos no 'menos pior'", reitera.
Já para o analista político Sandino Asturias, do Centro de Estudos da Guatemala, a escolha de Morales é uma resposta à necessidade de procurar alguém fora do sistema, em um momento de repúdio à corrupção da classe política tradicional. "Jimmy foi o único candidato que você pode chamar de externo ao sistema e que vendeu uma mensagem de 'nem corrupto nem ladrão', e as pessoas precisam disto", analisa.
Incógnita no segundo turno
O adversário de Morales no segundo turno ainda é uma incógnita. O magnata Manuel Baldizon, do Partido Liberdade Democrática, de direita, tem 18,6% dos votos. Logo depois, vem a social-democarata e ex-primeira dama Sandra Torres, que tem 17,9%. Nenhum dos três candidatos ficou perto dos 50% dos votos, marca necessária para vencer no primeiro turno.
A reta final da campanha foi tumultuada com a renúncia e a prisão do ex-presidente Otto Pérez Molina, acusado de chefiar um esquema de corrupção envolvendo a alfândega. O segundo turno da eleição presidencial da Guatemala está previsto para o dia 25 de outubro.
O futuro presidente, que deverá assumir em 14 de janeiro, terá a difícil tarefa de devolver a esperança à Guatemala, afetada pela pobreza em que vivem 54% de seus 15,8 milhões de habitantes e uma violência gerada pelo narcotráfico e por quadrilhas que contribuem com uma taxa de 39 homicídios para cada 100 mil habitantes.
Até que o novo presidente assuma, o ex-magistrado Alejandro Maldonado, de 79 anos, exerce a presidência do país. Ele ocupa o cargo desde o dia seguinte à renúncia histórica de Pérez, na última quarta-feira (2). "O povo deve castigar com o voto os candidatos que enganam", disse Maldonado ontem, depois de votar na capital.
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