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Papa

Papa Francisco visita a prisão mais perigosa da Bolívia

A última atividade pública do papa Francisco na Bolívia nesta sexta-feira foi uma visita à prisão mais lotada do país, antes de seguir para o Paraguai, a última escala da viagem pela América do Sul que começou no Equador. Na Bolívia, ele reivindicou os direitos dos pobres e demandou uma mudança nas estruturas econômicas globais.

Pessoas do lado de fora da prisão esperavam o papa
Pessoas do lado de fora da prisão esperavam o papa REUTERS/David Mercado
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Na visita à prisão de Palmasola, também a mais perigosa do país e localizada em uma espécie de cidadela em Santa Cruz de la Sierra, Francisco defendeu a reinserção dos presos na sociedade.

O papa se despojou de toda a pompa de pontífice e enfatizou que "reclusão não é o mesmo que exclusão, que fique claro, porque a reclusão forma arte de um processo de reinserção na sociedade".

Francisco caminhou lentamente em um amplo pátio do recinto, onde era aguardado por 2.800 presos e seus familiares. Abraçou muitos deles e beijou crianças. Atrás dele, integrantes do Vaticano distribuíam rosários enquanto uma delicada melodia cristã acompanhava sua passagem."Quem está diante de vocês é um homem perdoado. Um homem que foi e é salvo de seus muitos pecados. E assim é que me apresento", declarou. "Rezem por mim. Rezem, também cometi meus erros. Eu também preciso de penitência", acrescentou.

Virgem padroeira

Antes de se dirigir à prisão, o Vaticano informou que o papa visitou a Virgem padroeira da Bolívia, a quem doou as condecorações que recebeu das mãos do presidente Evo Morales. Sabe-se que o papa não aceita nenhum tipo de distinção. No entanto, nada foi especificado sobre o polêmico Cristo crucificado sobre a foice e o martelo, que também recebeu de presente do presidente boliviano.

Aos 78 anos, o papa ouviu testemunhos de prisioneiros, entre eles o da reclusa Analía Parada, que pediu ao pontífice que divulgasse o "terrorismo jurídico que atinge as pessoas de escassos recursos". Ao fim, Parada se emocionou e se refugiou em um abraço do papa. "O fato de termos cometido um crime não significa que devam nos deixar assim, no abandono", declarou outro detido entre aplausos dos presentes.

"Não tenho muito mais para dar ou oferecer a vocês, mas o que tenho e o que amo quero dar, quero compartilhar: Jesus Cristo, a misericórdia do Pai", declarou Francisco, que em certo momento perdeu o solidéu devido ao vento. "Enquanto a minha cabeça não voar, não há problema", brincou.

O pontífice argentino pediu para visitar Palmasola, uma prisão que abriga 4.800 réus, que se enfrentaram por disputas de poder em 2013, com um saldo de 35 mortos. Em Palmasola, vivem 120 crianças com seus pais presos, expostos a todo tipo de riscos. O arcebispo de Sucre e responsável pela pastoral penitenciária Jesús Juárez declarou que a presença de Francisco torna reais as palavras de Jesus: "Eu estava na prisão e foi me ver".

Presos sem sentença

A Bolívia tem a maior quantidade de presos sem sentença em toda a América Latina, com 84%, seguida de Paraguai, com 71% nesta situação, segundo a Defensoria do Povo, e uma alarmante taxa de superlotação - com 15.000 presos em cadeias cuja capacidade real é 5.000 - razão pela qual o governo impulsiona processos de indulto.

Francisco lançou na quinta-feira um histórico pedido de perdão em nome da Igreja, pelos crimes cometidos contra indígenas durante a conquista da América, em um dia marcado por seu apoio a reivindicações sociais, que o levaram a ser chamado de "Papa revolucionário".

"Peço humildemente perdão, não apenas pelas ofensas da própria Igreja, mas pelos crimes contra os povos originários durante a chamada conquista da América", declarou o primeiro Papa latino-americano ante uma cúpula de movimentos populares.

Durante sua estadia na Bolívia, o Papa ressaltou o trabalho social da Igreja católica e a defesa do meio ambiente, e abordou assuntos pontuais como o capitalismo ou a inclusão dos pobres. "Vamos dizer sem medo: queremos uma mudança", clamou o Papa em alusão ao livre mercado. Francisco sustentou que "este sistema já não se aguenta, os camponeses não aguentam, os trabalhadores não aguentam, as comunidades não aguentam, os povos não aguentam... e nem a Terra aguenta".

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