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África do Sul celebra o centenário do nascimento de Nelson Mandela

A quarta-feira (18) foi de festa e muitas homenagens a este ícone da luta contra o Apartheid. Em Joanesburgo, uma marcha simbólica foi liderada pela viúva de Nelson Mandela, Graça Machel, até o Tribunal Constitucional, um lugar altamente simbólico, sinônimo da chegada da democracia à África do Sul, em 1994.

Former U.S. President Barack Obama delivers the 16th Nelson Mandela annual lecture, marking the centenary of the anti-apartheid leader's birth, in Johannesburg, South Africa, July 17, 2018.
Former U.S. President Barack Obama delivers the 16th Nelson Mandela annual lecture, marking the centenary of the anti-apartheid leader's birth, in Johannesburg, South Africa, July 17, 2018. REUTERS/Siphiwe Sibeko
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"Atuem, inspirem-se na mudança, façam de cada dia um Dia Mandela", incita a fundação que leva o nome do ex-presidente. Todos os anos, o “Mandela Day" marca o nascimento, em 18 de julho de 1918, de "Madiba", como era conhecido o mais nobre representante do país.

Convidados internacionais, como o ex-presidente americano Barack Obama, participaram do tributo aos cem anos de nascimento do líder sul-africano. "A maioria das pessoas ao redor do mundo pensa em Mandela como um homem mais velho, com cabelos iguais aos meus", brincou Obama, diante de uma plateia de 200 jovens que participaram de um encontro de novas lideranças. "O que as pessoas não lembram é que ele começou sua vida como um jovem, tentando libertar o seu país", concluiu. Em sua visita, Barack Obama ainda lembrou "a onda de esperança que tomou conta do mundo" depois da libertação de Mandela, em 2 fevereiro de 1990, após 27 anos de prisão.

“Mandela nos conduziu da brutalidade do conflito e da opressão à terra prometida, uma terra de liberdade, democracia e igualdade", disse o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa. O político comemorou a data inaugurando uma clínica em Mvezo, cidade natal de Nelson Mandela, na província de Cabo Oriental, sudeste do país.

67 anos de luta para libertar o povo da opressão do regime de supremacia branca

Nelson Mandela lutou para libertar a África do Sul do regime separatista, oficializado em 1948, mas a separação existiu desde que os colonizadores chegaram ao país, como os holandeses em, 1651, e os ingleses, em 1820.

Dos 27 anos que Mandela passou encarcerado, 18 foram na Ilha das Focas, ao pé da Montanha da Mesa, o mais emblemático cartão postal da Cidade do Cabo. O local fica a 12 quilômetros de distância da cidade e tem temperatura normalmente baixa. Todos os presos que tentaram fugir de lá morreram congelados. A prisão de segurança máxima já foi base militar inglesa, abrigou leprosos e presos políticos. Atualmente é um museu que conta as atrocidades praticadas dentro de seus altos muros.

Mandela foi transferido para a prisão Pollsmoor, na mesma cidade, em 1982, depois de ter contraído o bacilo da tuberculose. O regime separatista sofria grande pressão internacional e o Governo iniciou uma série de negociações, todas rejeitadas por Nelson Mandela. Em 1988, ele foi transferido novamente por causa da volta da doença. Desta vez, Mandela passou a ocupar um bangalô com cozinheiro particular e piscina. “A conversa com o inimigo”, como Mandela descreve em sua autobiografia, “Longa Caminhada para a Liberdade”, se intensificou e culminou com a sua libertação, em 1990.

Centro de memória e aposentadoria

Quando Nelson Mandela terminou o seu único mandato, em 1999, o ex-presidente criou a Fundação Nelson Mandela e continuou trabalhando em casa, no bairro de Houghton, em Joanesburgo. Em 2002, a Fundação Nelson Mandela ganhou um escritório, no mesmo bairro, com espaço para acomodar funcionários, receber visitas, oferecer lanches, auditório para coletivas de imprensa e capacidade para abrigar pequenas palestras.

A partir de então, quando Nelson Mandela não estava viajando, ele dava expediente na fundação: atendia jornalistas, recebia admiradores e chefes de Estado. Os estadistas amigos, ele recebia com atenção e carinho. As celebridades, com um pedido: apoio financeiro. Muitas vezes Mandela levava seus convidados até a porta de entrada para que a imprensa tivesse a chance de fotografar presidentes, príncipes e outros famosos.

Em 2003, a Fundação Nelson Mandela lançou a campanha internacional “46664” para prevenir e combater o vírus HIV na África. 466 foi o número de prisioneiro de Nelson Mandela e 64 o ano de sua prisão.

Em 2004, quando Nelson Mandela anunciou em uma entrevista coletiva que era hora se aposentar, um repórter disse-lhe que ele já tinha se aposentado, e ele, bem-humorado, respondeu que “ia se aposentar da aposentadoria”. Foi então que o ex-presidente doou seu acervo pessoal à fundação: cartas, fotos, presentes que recebeu ao longo da vida, o Prêmio Nobel da Paz, de 1993, e curiosidades, como objetos de sua toalete. O escritório se mantém intacto até hoje. Atualmente, a Fundação Nelson Mandela abriga um museu com a História recente da África do Sul, contada a partir da luta de um homem que sacrificou a vida em nome da libertação do seu povo.

Novas cédulas, velhos desafios

Enquanto o país inteiro homenageia Mandela com shows, exposições, torneios esportivos e publicação de livros, seu rosto sorridente também ilustra novas cédulas de dinheiro. Porém, quase 25 anos após o fim oficial do Apartheid, a pobreza persiste na África do Sul, a economia desmorona e o racismo continua alimentando tensões.

Maior potência industrial do continente africano, o país é atualmente o menos igualitário do mundo, de acordo com o Banco Mundial. Muitos analistas internacionais questionam os sucessores de "Madiba" e a corrupção que gangrena a alta cúpula do Estado, especialmente sob a presidência de Jacob Zuma (2009-2018).

Com informações de Kinha Costa, correspondente da Radio France Internacional em Joanesburgo.

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