Manifestação leva milhares às ruas de Harare para exigir saída de Mugabe
Milhares de manifestantes saíram neste sábado (18) às ruas de Harare, capital do Zimbábue, para pedir que o presidente Robert Mugabe deixe o poder. A mobilização recebeu o apoio do exército, que esta semana assumiu o controle do país, e também do partido de Mugabe, expondo o isolamento do líder africano, há 37 anos no poder.
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"É muito tempo, Mugabe tem que sair', "Descansa em paz Mugabe", e "Não à dinastia Mugabe" eram cartazes exibidos pelos manifestantes. A mobilização de hoje encerra uma semana de crise política sem precedentes no Zimbábue, onde as Forças Armadas tomaram o controle do país e colocaram em prisão domiciliar o chefe de Estado no poder desde 1980.
A intervenção do exército representa uma guinada no longo reinado de Mugabe, marcado pela repressão de qualquer oposição e uma grave crise econômica. Com 93 anos, o decano dos chefes de Estado em atividade está cada vez mais isolado, depois que seus mais fieis aliados o abandonaram: depois do exército e dos vetereanos da guerra da independência foram as seções regionais do partido presidencial Zanu-PF que, na noite de terça-feira (14), pediram que ele abandonasse o poder.
"Tenho 30 anos. Imagine, nunca trabalhei. Isso por culpa do regime de Mugabe. Por isso pedimos mudança", explicou o manifestante Kelvin Shonhiwa à agência AFP.
Stephanus Krynauw, um fazendeiro branco expulso durante a polêmica reforma agrária realizada por Mugabe em 2000, também foi às ruas. "Há muito tempo que algo assim não acontecia, estamos todos juntos", explicou, referindo-se à maioria negra e à minoria branca, descendente dos colonos britânicos, também presente na manifestação.
O protesto foi organizado pelos veteranos da guerra da independência - importantes atores da vida política do país - e movimentos da sociedade civil, entre eles o ThisFlag, do pastor Ewan Mawarire, uma das figuras-chave do movimento contra Mugabe reprimido em 2016 pelas forças de segurança.
Os militares estavam presentes nas ruas de Harare, mas, desta vez, os manifestantes os saudavam e apertavam suas mãos. Alguns, inclusive, tiravam fotos junto ao chefe do Estado-Maior, o general Constantino Chiwenga.
Quando a massa tentou se aproximar do palácio presidencial, um cordão de segurança formado por militares fortemente armados impediu o avanço dos manifestantes. Eles chegaram a 200 metros da residência oficial.
Possível sucessor
Na quinta-feira (16), o ex-vice-presidente do Zimbábue Emmerson Mnangagwa, cuja destituição provocou um golpe militar, voltou ao país. Considerado por muito tempo como o provável sucessor de Mugabe, ele havia fugido do país após sua destituição em 6 de novembro por "deslealdade" para com o presidente.
O ex-vice-presidente é um dos nomes mais fortes para conduzir uma transição que encerraria o reinado de Mugabe. De acordo com a Constituição do país, em caso de destituição, morte ou impedimento do presidente para exercer suas funções, seu sucessor é o vice até que haja novas eleições.
Mas Mugabe se nega a renunciar, conforme deixou claro após uma reunião com o o general Constantino Chiwenga. Ontem, ele apareceu pela primeira vez em público desde o golpe militar, um novo sinal de sua intenção de se manter no poder, ao participar de uma cerimônia de entrega de diplomas na Universidade de Harare.
Na quarta-feira de madrugada, o exército do Zimbábue tomou o controle da capital, em uma operação sem vítimas, para apoiar Mnangagwa, transformado no principal inimigo da primeira-dama, Grace Mugabe.
Foi a ambiciosa esposa do presidente que fez Mnangagwa cair no início deste mês, em uma estratégia para deixar o caminho livre para ela se tornar a sucessora de seu marido.
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