Ser negro ajudou brasileiro a estrelar balé na África do Sul
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Ruan Galdino e Jonathan Rodrigues são dois dos quatro brasileiros que fazem parte do Joburg Ballet, na cidade de Johannesburgo, na África do Sul.
Amanda Lourenço, correspondente da RFI Brasil, em Pretória,
Quando era criança, o carioca Ruan Galdino sonhava em ser militar. Mas durante um passeio no shopping, deparou-se com uma apresentação de balé e foi amor à primeira vista. O sonho da carreira militar passou a ser ofuscado pela paixão pela dança.
Hoje, aos vinte e um anos, Ruan não se arrepende da troca: ele agora faz parte do corpo de baile do Joburg Ballet, a principal companhia da África do Sul, junto com outros três brasileiros. O caminho para chegar até aqui, porém, não foi fácil.
“Muita gente falava pra mim que eu não poderia fazer o papel de um príncipe. Um professor já chegou a falar que era melhor eu ser bailarino contemporâneo, pois não tinha como eu ser bailarino clássico por causa da minha altura e massa muscular”, conta Galdino. “Às vezes eu chegava em casa chorando dizendo que eu não poderia ser bailarino porque era negro e não tem bailarino negro. Era muito raro ter bailarino negro”, lembra.
O brasileiro, no entanto, não desistiu: trocou de escola de dança e foi fazer um curso em Nova York, onde conheceu o diretor artístico que o trouxe para a África do Sul. E, ao contrário do que ele pensava, o fato de ser negro ajudou na sua contratação, pois é difícil encontrar bailarinos negros no próprio país.
“Nunca achei que ser negro fosse ser algo positivo para mim, já que todo mundo falava que era algo ruim para o balé. Mas na África do Sul não tem muitos bailarinos negros, então eles procuram gente de outros lugares. Essa questão política da África do Sul atrasou o processo artístico e cultural das artes clássicas. Dentro da arte local africana eles se desenvolveram, mas a arte que veio da Europa ainda é algo restrito”, explica Galdino.
Lições entre Brasil e África do Sul
Jonathan Rodrigues, paulistano de 25 anos, é um dos dançarinos principais do Joburg Ballet. O brasileiro está na África do Sul há quatro anos e vai estrelar o espetáculo Cinderela, que começa dia 30 de setembro. Já com certa experiência morando fora, Jonathan diz que Brasil e África do Sul têm muito a aprender um com o outro.
“A África do Sul tem a aprender com o Brasil no relacionamento entre as pessoas. Eu não vejo tanto racismo no Brasil quanto eu vejo aqui. Não importa a cor da sua pele, no Brasil nossa comunidade é muito unida”, opina Rodrigues.
“Por outro lado, nós temos a aprender com a África do Sul a ajudar mais aos outros. Sinto que os sul-africanos fazem de tudo para você se sentir bem no país se você é estrangeiro. E com os brasileiros não é bem assim”, finaliza.
O espetáculo Cinderela fica em cartaz do dia 30 de setembro até 9 de outubro em Johannesburgo.
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