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África

Presidente de Angola anuncia sua retirada depois de 37 anos no poder

 O inflexível presidente angolano, José Eduardo dos Santos, anunciou nesta sexta-feira (11) que deixará a vida política em 2018, após se agarrar ao poder por quase quarenta anos. Um “reinado” em que Dos Santos aproveitou para reforçar o poder da sua família, endurecendo a repressão contra a oposição. 

José Eduardo dos Santos: quase quatro décadas no poder.
José Eduardo dos Santos: quase quatro décadas no poder. © Getty Images/Sean Gallup
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Durante os seus 37 anos de governo, Dos Santos dedicou-se a transformar a presidência em uma instituição onipresente, indissociável da sua personalidade. Chefe do partido majoritário, das Forças Armadas, do governo, da polícia e responsável pela nomeação dos principais juízes, ele controla hoje o conjunto das mais importantes instituições do país, inserindo seus homens de confiança em todas as instituições públicas.

A longevidade do seu governo só perde no continente africano para aquela do dirigente da Guiné Bissau, Teodoro Obiang Nguema, que chegou ao poder um mês antes de Eduardo dos Santos.

Nos últimos anos, Dos Santos aumentou o poder das suas forças de repressão face ao descontentamento das ruas, quando o povo não vê os benefícios da riqueza do petróleo de Angola, segundo maior produtor do continente.

Prova disso foi a prisão, em junho passado, de 17 pessoas, militantes de um movimento da juventude, que exigiam a renúncia do presidente e melhores condições de vida. O processo foi parcialmente aberto à imprensa e vedado aos observadores internacionais.

“Quando ele diz que vai deixar o poder em 2018, ele está, realmente, querendo dizer que vai se apresentar como candidato nas próximas eleições (em 2017), e só depois decidir se o país é suficientemente estável para que ele abandone a política”, comenta Paula Roque, pesquisadora especializada em Angola na Universidade de Oxford, em entrevista para a AFP.

Jamais eleito pelo voto direto

“Não há garantia alguma de que Dos Santos vá partir. Mas o país está à beira da crise econômica, e o presidente enfrenta dissidências dentro do seu próprio partido”, explica Paula Roque.

A queda do preço do petróleo nos últimos meses fez Angola mergulhar numa crise financeira, o que resultou na desvalorização da moeda nacional, o Kwanza, de 35% face ao dólar.

A crise econômica ameaça a estabilidade de um país, eternamente pobre, que detém o triste recorde mundial de mortalidade infantil, segundo a ONU, com 167 mortes para cada 1.000 bebês nascidos.

Investido como chefe de Estado pelo Movimento Popular pela Libertação de Angola (MPLA) em 1979, após a morte de Agostinho Neto, primeiro presidente do país, Dos Santos manteve-se no poder sem jamais ter se confrontado diretamente com o povo através das urnas. Sempre foi eleito presidente indiretamente através dos votos do partido majoritário.

Difícil, hoje, identificar um potencial sucessor ao chefe de estado que ocupa a sua função há 37 anos.

“Se ele partir em 2018, fará tudo para ter um sucessor que vai assegurar os seus interesses. Ele precisa ganhar tempo para fazer as mudanças necessárias”, analisa Paula Roque.

“Ele colocará o seu filho como vice-presidente antes de renunciar ao cargo a seu favor”, prognostica igualmente Nelson Postana Bonavena, do partido de oposição Bloco Democrático.

Marxista pragmático, Dos Santos abriu a economia de Angola ao mercado internacional depois de 27 anos de sangrenta guerra civil. Enquanto isso, sua família enriqueceu de maneira escandalosa. Sua filha, Isabel dos Santos, é hoje a mulher mais rica e poderosa do continente africano, segundo a revista Forbes

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