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Brasil-África

Descendentes de ex-escravos brasileiros representam elite política do Benin

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Os Agudás do Benin constituem uma comunidade descendente de brasileiros, com grande impacto cultural, político e empresarial até hoje no país. A capital foi batizada de Porto Novo por causa dessa influência. Aliás, nomes de famílias beninenses ilustres são em português, como Souza, Medeiros, Silva ou Cruz, apesar de o francês ser o idioma oficial do país.

Beninenses adeptos do vodu participam de festival dedicado a essa religião africana, semelhante ao candomblé, que cultua os antepassados e é tradicional no Benin.
Beninenses adeptos do vodu participam de festival dedicado a essa religião africana, semelhante ao candomblé, que cultua os antepassados e é tradicional no Benin. REUTERS/Akintunde Akinleye
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Jonuel Gonçalves, para a RFI

Os Agudás têm seu início histórico na segunda metade do século 18, com a chegada à costa do atual Benin e de regiões próximas, como Togo e Nigéria, de traficantes de escravos procedentes do Brasil. Um deles, Xaxá de Souza, ficou famoso a ponto de ser considerado como o maior traficante da costa atlântica da África ocidental. Primeiro Souza do Benin, Xaxá inspirou um grande romance de Bruce Chatwin, escritor britânico de viagens.

No século 19, um número importante de ex-escravos do Brasil se instalou no país africano. A constituição de famílias, muitas vezes com pessoas locais, aumentou de forma considerável a dimensão demográfica dos Agudás, até porque o índice de natalidade era muito alto. Diz-se que Xáxá de Souza teve cem filhos.

Franceses reconhecem distinção dos Agudás

Durante a colonização francesa, os Agudás foram considerados como interlocutores privilegiados dos franceses e alcançaram níveis educacionais acima da maioria da população. O primeiro médico beninense pertencia à família Medeiros.

Após a independência, essa influência se manteve. Ministros, deputados, intelectuais e grandes empresários são Agudás e, em dois casos, presidentes da República se casaram com mulheres Agudás.

Embora dados precisos sejam difíceis de estabelecer, eles representariam hoje entre 5% e 10% da população total do país. O mesmo cálculo é feito pelo professor brasileiro Milton Guran, autor de uma tese de doutorado sobre o assunto, baseada em pesquisa de campo e que deu lugar à publicação do livro "Os Agudás", com edições em português e francês.

Segundo Guran, o aspecto "inusitado e extraordinário" dos Agudás é que eles são ex-escravos, que fizeram uma aliança política com os ex-traficantes, para, juntos, superarem o estigma da escravidão. 

Eleição presidencial em fevereiro

O Benin realizará eleição presidencial no dia 28 de fevereiro. O primeiro-ministro Lionel Zinsou, candidato do partido no governo, recebeu no sábado (30) o apoio do principal partido de oposição, PRD, Partido da Renovação Democrática. Zinsou se apresenta como candidato da "união nacional" e assegura estar comprometido com a construção de um país de "justiça e paz".

Esta é a primeira vez que o PRD apoia um candidato externo ao partido em 25 anos de militantismo político. A disputa terá 36 concorrentes, de acordo com as candidaturas aprovadas pelo Tribunal Constitucional.
 

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